Qual a função do regente coral?
A função do regente coral é ensinar ou facilitar?
Muita gente vê o a função do regente coral como facilitadora na hora de produzir um repertório musical, mas, muitas vezes, essa "ajudinha" pode passar um pouco do ponto e, ao invés de facilitar, criar um problema.
Será que o regente coral é realmente um facilitador? Ou será que é simplesmente um alienador? Será que ao pensar que está ajudando, na verdade, está alienando? Qual o limite entre esses aspectos?
Facilitar pode só adiar o problema
Muitas vezes, quando imaginamos estar facilitando, na verdade, estamos adiando um problema, criando uma dificuldade, que aparecerá de forma mais grave no futuro. Cedo ou tarde, precisamos estar preparados para fazer certas coisas. Necessitamos desenvolver não só aptidões musicais, como também um pensamento crítico, que permita chegar ao nível do discurso de um maestro.
Determinados termos podem dificultar o entendimento de um cantor, que ainda não foi preparado para compreender os usos das linguagens musicais. Por isso, precisa ser capacitado para interpretar o que o maestro fala.
Uma das funções do maestro é prover a terminologia técnica, habilitando os alunos a compreender o jargão musical. Pela falta de vocabulário, o facilitar pode promover uma verdadeira Torre de Babel, ao longo da atividade.
É função do regente coral desenvolver o vocabulário do grupo
Um dos discursos mais comuns no canto coral é quando as pessoas dizem não ser necessário saber teoria musical para cantar. Que não é preciso saber música para cantar, que o canto é algo que sai do íntimo de forma espontânea.
De fato, quando começamos no canto coral, o conhecimento técnico não é estritamente necessário. Não é algo preponderante para conseguir participar da atividade. No entanto, conforme o tempo passa, à medida que a atividade demanda novos desafios, o conhecimento musical vai se mostrando urgente e necessário.
Canto coral e harmonia
Não só a teoria musical é fundamental no desenvolvimento de um coral. A harmonia é um grande problema na formação de cantores. Cantar em coro é sempre fazer sons simultâneos, combinando notas musicais com a voz. Quando combinamos mais de duas notas, chamamos de acorde. A interação entre os acordes forma o que chamamos de harmonia.
O canto coral é o melhor lugar para aprender harmonia, pois, cada pessoa se torna uma pequena parte de uma rica interação sonora. O nome coral remete à sinestesia entre som e cor. A interação dos sons encadeados gera um efeito tão especial que é chamado de colorido sonoro. No coral, esse aspecto fica ainda mais evidente por conta da peculiaridade da voz humana.
Qualquer trabalho coral, a partir de três vozes, precisa desenvolver a conscientização harmônica. Não há como obter um resultado coeso facilitando esse aspecto. Quando isso acontece, o que se obtém é uma alienação constante, pois, o grupo dificilmente vai afinar e, se afinar, será por sorte, não por consciência musical.
Canto coral e alienação
Então, para você realmente afinar, para ter consciência do que está cantando de verdade, é necessário uma sensibilização harmônica. De fato, é necessário aprender harmonia. Sem consciência harmônica, o coro não afina. Não há como afinar sem saber como os sons interagem.
É como se eu desse um trabalho específico para um operário sem fazer nenhuma relação com a obra final. É como se, numa cadeia produtiva, a pessoa tivesse uma função muito específica e nunca desfrutasse da oportunidade de contemplar o produto que ela mesma fabricou. Nem mesmo consumi-lo. É como se a pessoa trabalhasse numa fábrica de carros sem nunca ter visto um.
Isso realmente aconteceu durante o século XIX. As pessoas simplesmente trabalhavam sem ter contato com os artigos que fabricavam. Sequer viam o produto, o que dirá usufruir dele. Intrigado com esse fato, Karl Marx chamou esse fenômeno de alienação.
A função do regente é prover o conhecimento
Será que em pleno século XXI faz sentido manter práticas que se equivalem aos métodos utilizados durante a revolução industrial? Métodos que alienavam a população a ponto de nem saberem o que geravam?
É isso o que acontece com a falta de conhecimento em qualquer empreendimento. As pessoas simplesmente não conseguem almejar a dimensão do que podem alcançar.
A facilitação, muitas vezes, revela um atalho que, na maioria dos casos, conduz à dependência. Num desses dias, publiquei um vídeo falando sobre os malefícios dos atalhos musicais. Veja abaixo:
A facilitação é estagnante
A alienação acontecia durante a revolução industrial, pois mantinha os trabalhadores alheios ao valor do que eles mesmos produziam. Dessa forma, não tinham dados suficientes para reivindicar melhorias na sua qualidade de vida.
Um cantor alienado simplesmente não consegue definir onde quer chegar, e está sempre dependente de um maestro para definir o próprio futuro. Um coral sem conhecimento musical não consegue definir os próprios anseios e age em função dos interesses de outrem, assim como trabalhadores de uma fábrica durante a revolução industrial.
Nem sempre os interesses dos maestros estão alinhados com os desejos dos cantores. A falta de conhecimento musical impede a reversão desse quadro. No momento em que cantores são empoderados de conhecimento, conseguem não apenas ser independentes no próprio estudo musical, mas questionar práticas que não promovem o próprio desenvolvimento.
Por uma revolução coral
Um coral precisa ser capaz de, a partir de argumentos musicais, destituir líderes que comprometam o crescimento. É preciso que os cantores tenham conhecimento de causa para isso. Como grupo constituído, precisa saber sustentar seus discursos e, dessa maneira, agir em função dos próprios interesses.
Por isso, sempre me sinto orgulhoso quando cantores desenvolvem a habilidade de debater sobre música com coerência, usando o vocabulário adequado.
Quando os cantores aprendem a usar os termos de forma correta, trabalhamos em outro nível. O conhecimento musical eleva o debate artístico, proporcionando discussões embasadas, possibilitando alcançar os objetivos em colaboração.
Um coral para aprender de verdade
Se você sente que é muito dependente de um maestro ou de um professor, o Choir at Home é uma ótima solução. O grupo possui métodos de trabalho empoderadores que tornam os alunos senhores do próprio desenvolvimento, utilizando as ferramentas digitais de ensino aprendizagem mais avançadas.
No Choir at Home, os cantores não só aprendem no próprio tempo, como também, possuem encontros semanais onde desenvolvem a técnica vocal e outras questões individuais. Esses encontros ficam gravados e podem ser acessados a qualquer tempo. O resultado é um amplo acervo de atividades guiadas, possibilitando tonificar a voz e desenvolver a consciência musical.
Excelente!!! Muito esclarecedor!!! Parabéns!!! 👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado!!
ExcluirExcelente!!! Muito esclarecedor!!! Parabéns!!! 👏👏👏👏
ResponderExcluirMuito bom mestre! Acredito que é preciso encontrar um caminho que seja beneficente para ambos.
ResponderExcluirIsso mesmo!
Excluira regente do coral que eu faço parte ela faz os solas das musicas sempre ,não sei se ela pode fazer isso mas na minha visão teria que preparar o coral pra fazer os solos usando as vozes dos coristas enquanto rege o coral .o que vcs acham?
ResponderExcluirÉ comum que em coros, os solos sejam atribuídos a cantores específicos que se destacam durante as audições ou ensaios, ou ainda por indicação do regente. No entanto, é possível que a regente também faça os solos, especialmente se ela tiver uma voz qualificada e quiser demonstrar a melodia completa para os coristas.
ExcluirNo entanto, é importante que os coristas também tenham a oportunidade de fazer solos e desenvolver suas habilidades vocais. Uma sugestão seria que a regente se concentrasse em ensinar e orientar os coristas a fazerem solos, ao invés de fazer os solos sozinha, permitindo que todos tenham a oportunidade de se apresentar.
É sempre importante manter uma comunicação aberta e honesta com a regente e expressar suas opiniões e preocupações de forma respeitosa. Dessa forma, é possível buscar soluções que atendam a todos os membros do coral e promovam o desenvolvimento vocal e musical do grupo.