Como funciona o canto coral?

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Entenda como funciona o canto coral com o maestro Rafael Caldas

Muita gente ouve falar que cantar em um coral é importante para desenvolver o ouvido musical, melhorar a técnica vocal, enriquecer a cultura geral, mas, poucos tiveram oportunidade de conhecer sua dinâmica de trabalho. Para muitos, canto coral é algo como juntar o pessoal para cantar, mas não sabem exatamente o que acontece durante os encontros, quais são os métodos, repertórios, estilos. Hoje, vou falar um pouquinho sobre como funciona o canto coral.

Uma atividade sinestésica

Antes de dizer como funciona, vou explicar o que é o canto coral:

Canto coral é uma atividade de canto em conjunto cujo objetivo é executar as vozes em harmonia. Ou seja, a combinação das vozes gera um efeito sinestésico, um efeito que nos faz estimular outros sentidos, além da audição. O próprio nome “coral” faz referência a cores, como se, em cada combinação de acordes executados pelas vozes, pudéssemos ver, ou sentir, um colorido sonoro diferente. Esse efeito sinestésico acontece em outras áreas como, por exemplo, na ciência do café: muitos baristas dizem que determinados tipos de café possuem “notas” que lhes dão um determinado sabor. Essa é uma sinestesia entre olfato e paladar com a audição.

Canto coral e canto em conjunto

Esse aspecto difere o canto coral do canto em conjunto. Não basta juntar uma galera e começar a cantar que estará fazendo canto coral. Existem algumas especificidades da atividade que a diferenciam de um canto em grupo qualquer.

Um dos principais aspectos é a própria sinestesia. Para obter o efeito de cores, é necessário que se cante a mais de uma voz. Cantando em harmonia, combinando notas diferentes entre as vozes, fazendo acordes. A diversão no canto coral está em ouvir a combinação das vozes e experimentar os efeitos sonoros que proporcionam. Cantar a uma só voz, em uníssono, é importante, mas não é suficiente para dizer que está cantando em coro.

No canto coral você

  • Desenvolve a percepção musical
  • Tonifica sua voz
  • Aprimora o ouvido harmônico
  • Enriquece sua cultura geral
  • Faz amizades com interesses em comum
  • Se diverte muito!

Combinando diferentes tipos de vozes

No canto coral dividimos a música em vozes, valorizando a característica vocal dos cantores. Normalmente, dividimos os cantores em naipes, separando as vozes graves, médias e agudas de modo a que todos cantem melodias de forma que lhes seja confortável.

Imagine um grupo de mulheres. Podemos dividir em três vozes, por exemplo, e cada uma dessas vozes cantar melodias diferentes que se harmonizem. No fim, todos cantam em uníssono, mas, separamos a linha melódica que traz mais conforto a um tipo vocal. Pensando neste caso, se o grupo for de trinta cantoras, podemos colocar dez para fazer cada linha melódica.

É tipo sertanejo?

Não necessariamente, mas o sertanejo é uma ótima referência para os iniciantes. Observe que as músicas sertanejas normalmente são feitas por duplas. Essas duplas, normalmente, cantam a duas vozes. O efeito da combinação dessas vozes é bem próximo ao do canto coral e uma das técnicas composicionais mais básicas para a formação, é a do sertanejo, onde os cantores cantam duas notas diferentes ao mesmo tempo. Se temos um grupo com 20 pessoas, podemos combinar duas melodias e colocar 10 para fazer a linha mais grave e os outros 10 para fazer a mais aguda, por exemplo.

Ah, então é tipo boy band?

Sim. As boy bands cantam em uma formação que surgiu no Reino Unido: o Glee. Essa formação faz parte de uma atividade coral típica das universidades estadunidenses. São grupos formados em fraternidades que tinham como objetivo cantar um repertório moderno e divertido. Os glees norte-americanos do século XX, normalmente, cantam pop, rock, soul, gospel e outros gêneros urbanos dos Estados Unidos.

Então por que no canto coral eu ouço mais música clássica?

Ocorre que as bases do canto coral estão na música de concerto que, quando foram compostas, eram como o Glee. Inclusive, muitas das fraternidades já existiam no século XIX e tiveram músicas compostas para a formação. De qualquer forma, o canto coral possui práticas bem anteriores que remetem às civilizações da antiguidade, cada uma realizando o repertório em voga em sua época. Hoje, temos uma visão distante da música desses períodos, pois, não vivemos o mesmo ambiente de produção, mas, para as pessoas que viviam naqueles momentos, era o que havia de mais moderno.

Arranjos e adaptações

O que torna mais difícil a execução de gêneros mais contemporâneos é a necessidade de produção de arranjos dentro da linguagem coral, sem perder a essência do gênero. Isso demanda do arranjador, e do compositor, a habilidade de combinar a sonoridade coral e a essência das músicas que não foram originalmente compostas para essa formação. Muita gente acha que, por parecer ter uma linguagem mais rebuscada em relação à música popular, as composições eruditas são mais difíceis ou melhores em algum sentido, mas isso não é verdade. 

A qualidade de um coral não pode ser atribuída ao repertório que canta, mas à capacidade de executar composições e arranjos complexos. Posso fazer um arranjo de “boi da cara preta” bem complexo e torná-lo mais desafiador do que qualquer outra música. Tudo depende das técnicas exigidas pelo arranjo. Um coro que mostra habilidade em cantar música popular e erudita, na verdade, mostra versatilidade e diversidade em seu repertório, o que revela maior riqueza estética.

Canto coral não é videokê!

Embora seja uma atividade de lazer e o objetivo seja divertir através do canto, um coral possui regras de convivência. A maior parte delas é ligada ao compromisso de cantar junto e à necessidade de aprendizado musical constante. Muita gente confunde a atividade lúdica com atividade recreativa. A recreação é um dos elementos do trabalho coral que permite uma re-criação dos efeitos, uma experimentação mais livre da música. Já o elemento lúdico combina a diversão com a educação. Portanto, o canto coral é uma atividade de educação musical, o que demanda um estudo constante envolvendo ferramentas de aprendizado como partitura, áudios de estudo, gravação da voz.

Essa confusão de objetivos, muitas vezes, gera um mal estar dentro dos grupos. Então, não entre em um coral com a postura de quem vai cantar em um videokê, há objetivos conjuntos nessa atividade, por isso, observar os anseios do grupo é fundamental para saber se o coro é ou não para você.

Tem que ser divertido

Alguns grupos podem ser mais voltados para concertos, o que traz um perfil de apresentações e exigência profissional, outros grupos podem ter um perfil educativo usando o canto coral como atividade voltada para o aprendizado musical, já outros podem ser recreativos estimulando uma terapia ocupacional, sem muito compromisso com apresentações e o aprendizado.

Observado como compromisso, parece que a atividade é enfadonha, mas, cantar em um coral só é chato quando não sabemos quais são as regras do grupo. Alinhar o seu objetivo, ao entrar em um coral, com o perfil do grupo que tem em mente é fundamental para determinar se a atividade trará algum benefício. Portanto, veja os anseios e o nível do grupo no qual deseja ingressar. Às vezes, a combinação das vozes gera um efeito grandioso e alguns podem achar que determinado coro é muito avançado, mas isso pode não ser nada demais. Pergunte ao maestro o que ele espera de um cantor que nunca cantou no coro, caso esteja inseguro sobre sua capacidade de acompanhar o conjunto. Nada melhor que recorrer ao líder para saber quais são os anseios e as exigências técnicas do grupo.

O canto coral pode ser de qualquer tipo

Existem diversas propostas. Algumas delas podem ser mais voltadas a um tipo de repertório: coro gospel, coro de mpb, coro sinfônico; outras, para uma determinada faixa etária: coro juvenil, coro infantil, coro de terceira idade; alguns institucionais: coro da empresa tal, coro do consulado tal, coro da escola tal, da igreja tal. Cada enfoque influenciará na maneira como o grupo irá trabalhar. Há de se esperar que o coro do consulado da Itália foque mais no repertório em italiano; que o coro de uma empresa cante jingles comerciais; que um coro escolar tenha um enfoque educacional; que um coro de igreja tenha funções litúrgicas. O meio onde o coro atua influencia diretamente o perfil do grupo.

Com a pandemia, as formas de trabalho do canto coral, que já eram diversas, se diversificaram ainda mais. Eu mesmo deixei todos os trabalhos tradicionais que realizava para focar apenas em um coral com um aspecto único: um coro totalmente virtual no qual as pessoas cantam em casa, em seu próprio tempo, usam ferramentas digitais no aprendizado, e se divertem. O nome deste grupo é Choir at Home, e é voltado para aqueles que gostam de cantar, mas tem o tempo apertado e não conseguem estar em lugares físicos num determinado dia e horário. No Choir at Home, os cantores produzem em seu próprio tempo, tendo apenas um encontro semanal em dias diferentes. Algo revolucionário para o meio. Veja um de nossos trabalhos:

Porque criei o grupo

Eu criei o Choir at Home porque 90% dos ensaios resumiam-se em ficar repetindo notas para os cantores, o que tornava a atividade pobre, com pouco conteúdo. No Choir at Home, todo esse processo é automatizado, permitindo que os cantores aprendam em seu próprio tempo e de forma mais eficiente, pois, no método empregado, os cantores aprendem a analisar a própria gravação estimulando a escuta da própria voz, e a autoavaliação. Aspecto dificilmente abordado em coros tradicionais, pois, não é possível rever o que já foi cantado. 

Isso nos dá mais tempo para, nos encontros ao vivo, explorar outros elementos de interesse dos cantores como atividades de percepção musical, técnica vocal, história da música, e muito mais. Os cantores se sentem empoderados, pois, obtêm recursos que mostram o que estão fazendo errado, onde e como estão errando, e como devem melhorar. Muitos revelam que cada vez se sentem mais capazes de estudar sozinhos, libertos do maestro, pois, possuem ferramentas que permitem crescer musicalmente de forma autônoma. Alguns cantores, inclusive, dizem que músicas que demoravam em torno de três meses para aprender, passaram a demorar apenas quatro horas.

Esse é o projeto que acredito, e é como funciona o meu coro no momento. Clique aqui e saiba mais.

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