A crise em cima da crise: o futuro do seu coral está em suas mãos

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Neste ano de pandemia, os corais estão com várias abordagens diferentes, e todas experimentais. Existem poucas experiências em ensaio on-line e o conhecimento agregado dos maestros em canto coral, e em tecnologia, tem sido fundamental para a manutenção dos grupos. Alguns maestros simplesmente cruzaram os braços, consequentemente, seus cantores também estacionaram. Mas, e quando o maestro resolve se movimentar e os cantores se mantém em estado de inércia? O que é preciso fazer?

Nada.

Já ouviram o ditado: “uma andorinha só não faz verão”? Fazendo uma analogia rápida: “um maestro só não faz verão”. Para que as novas propostas tenham efeito, é necessário, e importante, que os cantores se mobilizem em prol do conjunto e confiem que vai dar certo, se  seguirem as instruções dadas. Não há nenhuma segurança no que é proposto. A fase é de experimentação. Todos os coros agora são oficinas. Daí, quando um cantor se retrai e resolve parar, tudo se torna mais difícil.

O grupo é o maior motivador

É sempre mais motivante quando o grupo abraça as ideias e produz em conjunto. O maestro competente traça um caminho e espera resultados. Sabendo que pode confiar com seus cantores, é provável que dê certo. Mas é necessário que seja dada uma chance para as coisas acontecerem. O cantor precisa se colocar à prova. O ambiente online oferece muita coisa imediata, mas a educação musical dificilmente será assim. De qualquer forma, minhas experiências até o momento demonstram resultados mais imediatos do que no regime presencial. Ou seja, os cantores que estão confiando no trabalho estão evoluindo, e os resultados aparecem mais rápido.

Os três momentos de crise

Considero que a pandemia trará três momentos de crise aos agrupamentos corais. Encarar esses momentos de forma inteligente pode ser fundamental para o desenvolvimento dos conjuntos. É necessário observar os possíveis problemas de forma acurada, preparando toda a equipe para o pior. O pensamento otimista aqui só vai trazer a falsa sensação de que será tudo melhor quando voltar. E a verdade é que se o cantor não fizer sua parte, seu coro corre sérios riscos de sucumbir.

Eis os três momentos:

Momento de crise 1

Este já passou. Foi a mudança repentina do ambiente de trabalho. Saímos do regime presencial, e fomos para o virtual. O treinamento se fez necessário e o aprendizado das novas ferramentas necessitou ser rápido e eficiente. Quem ainda está nesta fase se encontra muito atrasado e, provavelmente, tornará as outras crises ainda mais problemáticas.

Momento de crise 2

A volta aos ensaios.
Este será o momento de crise maior, pois os grupos não voltarão 100%. Cada pessoa terá uma maneira/possibilidade de voltar às atividades e o provável é que nunca haja todos os cantores no ensaio. E, se o coro tiver cantores no grupo de risco, a volta será ainda mais complicada. O grupo ficará tão dividido que provavelmente manter a estrutura virtual será mais proveitoso.

Momento de crise 3

A volta de 100% do grupo.
Neste momento, o grupo voltou completamente, mas muitos podem não ter seguido as orientações durante o período de pandemia. O grupo neste estado se encontrará altamente desequilibrado, com algumas vozes bem preparadas e outras zeradas. Haverá uma crise de relacionamento, os cantores mais assíduos se sentirão injustiçados e os não assíduos, despreparados para a nova fase. É provável, inclusive, que esta fase exija o uso das ferramentas utilizadas no sistema on-line, acentuando a crise para aqueles que decidiram não usá-las.

Futuro certo e futuro desejável

Existem dois futuros prováveis após a pandemia. O que considero certo é o que apontei acima, com várias crises. Conhecendo o perfil dos cantores de coro, sei que não haverá homogeneidade, e sempre haverá aqueles que não seguem as propostas dadas, seja pelas dificuldades que a pandemia oferece, ou por desleixo. Por mais que me prepare para as crises praticamente certas, faço um apelo ao cantor que está lendo este texto para um futuro desejável: se realmente gosta de seu coro e zela pela sua existência, confie em seu maestro. Neste momento o cantor é o principal responsável pela manutenção do grupo. Se seu regente está procurando fazer o trabalho dele, mexa-se e faça o seu. Seu coral depende de você.




Comentários

  1. Rafael, parabéns pelo artigo. Como sempre, entendo que artigos desse tipo ajudam à reflexão, que não ficam só nos tópicos por você abordados, e solução de impasses.

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  2. Rafael. Muito oportunas as suas observações. Destacadamente quanto à análise do ambiente atual que, considerando as alternativas que estão sendo trazidas pelos maestros que , como você, acreditam na continuidade da atividade coral, demanda um empenho maior e diferenciado dos coralistas quando comparado ao passado recente. Nesse novo formato, precisamos nos familiarizar com ferramentas tecnológicas até então desconhecidas por quase todos, mas que, embora elas gerem uma muito maior exposição pessoal, naturalmente podem também ser grandes aliadas para o auto-conhecimento e a busca da melhoria de desempenho. Do meu ponto de vista, a prontidão para superar esses novos desafios, e a vontade de participar do projeto apresentado pelo maestro, seguindo as orientações necessárias para sua finalização, certamente trará uma grande satisfação pessoal aos que acreditaram na proposta. Vale o desafio!!!

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