Existe resenha de música coral?
As resenhas de
música são cada vez mais escassas e menos informativas. Boa parte dos autores
dessa modalidade, pela ausência de conhecimento musical, focam mais nas
trivialidades do que na música em si. O tema da postagem de hoje é: existe
resenha de música coral no Brasil?
O que é uma resenha?
Segundo o dicionário
Aurélio, fazer uma resenha é "referir-se minuciosamente" a algum
assunto.
As resenhas de
discos eram muito comuns durante a segunda metade do século XX, especialmente
na década de 70, quando o vinil era o principal suporte de música gravada.
Nesse tempo, os
textos eram publicados em jornais e revistas que custavam mais barato que os
discos de música. Por isso, se tornaram populares rapidamente e podiam
alavancar as vendas de um álbum ou destruir o trabalho de um artista.
As leituras das
críticas eram sujeitas à brevidade que eram publicadas em relação ao lançamento
do disco: quanto mais rápido o crítico ouvia o disco e escrevia sobre ele, mais
rápido o público tinha acesso às informações.
Hoje em dia essa
prática está incorporada às redes sociais e aos blogs, dando uma nova roupagem
ao gênero literário e aplicando-o a realidade do século XXI.
O crítico de música
No século XIX a
burguesia era rica economicamente, mas pobre culturalmente. Ávida pelo
conhecimento dos nobres, buscava nos jornais informações sobre os concertos e
óperas que estavam por vir. Intelecto no século XIX era demonstração de
autoridade e prestígio dentro da alta sociedade: tudo que a burguesia precisava
para se estabelecer como classe social das camadas superiores. O crítico de
música foi figura preponderante nesse período, determinando os gostos e
desenvolvendo a visão crítica do ouvinte.
Até hoje, muitas
pessoas possuem dificuldades em definir opinião própria sobre um assunto e
repetem o que leram numa crítica. O crítico de música, em muitos casos, molda a
opinião pública e por isso é figura influente no sucesso de uma obra.
E a crítica de música coral?
A crítica de música
coral existe, porém, no Brasil, ela ainda é tímida. Acredito que isso ocorra
pela diminuta produção de concertos e super diminuta produção de álbuns corais.
Gravar coral é caro e complicado: além da expertise musical, necessita de bons
técnicos e equipamentos sofisticados.
Essa realidade está
mudando, já que a tecnologia é cada vez mais acessível. De qualquer forma, o
conhecimento técnico de produção fonográfica ainda é fator determinante para um
álbum de boa qualidade. Além disso, a maioria dos cantores de coro são amadores
e, por não se dedicarem profissionalmente à atividade, não buscam o
aperfeiçoamento necessário para a empreitada. Nesses trabalhos, na maioria dos
casos, não há o propósito de gravar, mas isso não impede que haja bons
registros neste seguimento.
Gravar necessita de
tempo, lugar amplo e silencioso que comporte um coral e, por ventura, uma banda
ou orquestra e, principalmente, muita paciência!
Em alguns casos,
quando o objetivo é granjeado com louvor, o plano de marketing é tão pobre e a
limitação dos profissionais envolvidos é tão grande que as gravações sequer
alcançam as plataformas digitais como spotify, deezer, itunes e, (pasmem!),
youtube.
Com realizações
profissionais tão limitadas, o crítico de música quase não têm material para
desenvolver artigos literários de qualidade. Afinal, escrever sobre coros
amadores não é atividade que um crítico queira se ocupar, embora seja de grande
valia.
Há jornais, revistas
e blogs brasileiros que publicam resenhas de álbuns e concertos corais, mas são
tão poucos que ficam ofuscados pelas grandes produções do mercado.
E agora? Quem poderá nos defender?
A baixa produção
coral no Brasil não é suficiente para justificar a ausência de crítica sobre o
assunto. A produção no exterior é grande: tem muita gravação de qualidade e,
mesmo assim, a mídia brasileira pouco se afeta. Por isso, usarei este blog para
trazer resenhas de álbuns ligados à música coral, com uma facilidade que não
havia na década de 70: o streaming de música. Você poderá ler aqui sobre um
álbum coral e imediatamente ouvi-lo na sua plataforma favorita. Nem todos
estarão nas mesmas plataformas, mas farei o máximo para referenciá-las nas
postagens.
E aí? Gostou da
ideia? Inscreva-se no blog e receba as atualizações por e-mail.
Deseja compartilhar alguma ideia? Deixe seu comentário.
Deseja compartilhar alguma ideia? Deixe seu comentário.
Muito legal. Realmente, tirando "críticas" de trabalhos de artistas midiáticos, quase não existe crítica musical aqui no Brasil, e, geralmente, quando não agrada a opinião dos tais artistas midiáticos, logo são abafadas.
ResponderExcluirMuito bom ter um lugar com crítica de bons trabalhos musicais.
Viva a música!
Verdade.
ExcluirObrigado pelo comentário.
Grande abraço!
Excelente, Rafael.
ResponderExcluirHá 12 anos atrás eu observei uma mudança brusca no canto coral, sobretudo com o aumento dos corais cênicos e a queda de corais a capella. (Não escreverei crítica neste sentido pois não tenho uma visão abrangente em termos de Brasil, minha visão é mais regional a respeito desse fenômeno.)
Tive larga experiência com grupos extremamente organizados da Itália, como por exemplo o Coro della SAT, Crodaioli e Coro Alpino Orobica. Hoje esses grupos nos inspiram a realizar um trabalho com o Vox Uomini em Juiz de Fora. Resolvi em 2006 implantar a filosofia coral do canto de montanha italiano e comecei esse trabalho. Dificuldades logo apareceram, bem como as críticas, afinal um grupo de brasileiros cantando música popular dos alpes italianos não é algo que se veja de montão. Num cenário local do canto coral sendo majoritariamente compostos por corais cujos os repertórios são direcionados a MPB, nós distoamos ao subir aos palcos com um grupo vocal masculino, mestiço e com um trabalho organizacional e musical trazido da Itália.
O canto coral no Brasil ainda tem muitos tabus para quebrar. O canto dos alpes é lindo e uma ótima maneira de se aproximar da natureza.
ExcluirObrigado pelo comentário!
Abraços!